sábado, 26 de setembro de 2015

Ponte


Eu atravessei a ponte, fui para outro lado, ou ainda estou indo. Foi meio aos tropeços, sabendo que era uma viagem de um caminho só. As cordas de suporte para evitar uma possível queda já eram, as cortaram há quase dois anos atrás. Quando chegar ao outro lado, ainda posso olhar para trás, dar uma olhada meio saudosista para o lado de lá, mas não tem como voltar. 
É uma ponte meio bamba, tem umas tábuas podres. Prefiro nem olhar para baixo, melhor ir andando em frente. Não posso nem fechar os olhos, seria disperdício da paisagem. Ninguém pode vir comigo, essa ponte não suporta duas pessoas. É uma viagem solo, rumo ao desconhecido. 
Como será do outro lado dessa ponte? 
Já vejo alguns contornos ao longe. Às vezes eu gosto disso, por outras odeio, mas já não tem volta.
Quando se escolhe caminhar pela ponte, eu você empaca e não sai do lugar, ou se arrisca e vai andando.
Eu preferi arriscar.

Lorem Krsna

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Cortaram o fio


Ei, eu sinto sua falta sabe. As coisas não andam muito fáceis não.
Preciso de um empurrão grande, às vezes quero ficar parada. As vezes não sei qual estrada eu pego.
Está tudo tão diferente.
As coisas pelas quais esperava não existem mais.
É como andar pela ponte, sem saber nunca o que está do outro lado, e sabendo que não vai poder voltar.
Eu não tenho mais para onde voltar.
Cortaram aquele fio sabe, e eu por vezes penso se era hora, se um dia seria a hora.
Não há mais fio nenhum, não deu tempo de construir outro. 
Ficar solto no vazio é tão triste. Falta equilíbrio, tenho medo de cair.

Está tudo complicado, aquelas crenças todas foram para o fundo de um rio. Aquela alegria toda, não sei para onde ela foi nessa bagunça.
Aquela vontade toda, por vezes tenho que lembrar dela. 

Acho mesmo que estou meio perdida. Eu preciso daquele empurrão, daquela ligação que nunca vai vir. Nunca mais.
Eu preciso daquela parte que foi embora, vivo com a síndrome do membro fantasma. 
Aquela coragem toda foi para o ralo, escorreu toda.
Aquele atrevimento, nem sentido me faz mais.
Eu odeio minha resignação, e algo dentro de mim nunca aflora. 
Eu me tranquei dentro de mim, e apenas falo pela eu impostora. 
Ninguém mais sabe como estou pelos meus alôs.

Lorem Krsna



domingo, 13 de setembro de 2015

"kosmopolítēs"



Cosmopolita tem origem da palavra "kosmopolítēs", que significa 'cidadão do mundo'. Sem lugar certo, espalhado usualmente pelas cidades e capitais do mundo, adaptando-se rapidamente ao modo de vida por onde passa, para então alçar voo outra vez.
Você vai reduzindo seus bens para caber em duas malas no máximo.
Quando alguém pergunta de onde você é, você hesita por segundos, como se não soubesse ao certo  mais.
Você reconhece pessoas pelo modo como falam.
Nem sempre as pessoas reconhecem mais o seu modo de falar.
Das pessoas que você se importa mais, poucas realmente moram perto de você no momento.
Mas nenhuma delas te tira esse desejo de pegar a estrada toda vez.
Você parte, mas também é partido, por que muitos dos seus amigos são também como você.
Você teve uma boa razão para sair de casa pela primeira vez, mas quando retorna, não encontra mais uma boa razão para ficar de vez.

Lorem Krsna

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