quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Demian e o rompimento da casca


"Nada posso lhe oferecer que não exista em você mesmo.
Não posso abrir-lhe outro mundo além daquele que há em
sua própria alma. Nada posso lhe dar, a não ser a oportunidade,
o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível
o seu próprio mundo, e isso é tudo."
Hermann Hesse

Demian é um livro do escritor alemão Hermann Hesse, que possui um significado especial para minha vida. Para começar, para mim ele não é apenas um livro, mas uma obra de arte que retrata com maestria a alma humana em suas maiores buscas e frustrações.
E a alma que representa tudo isso se encontra no jovem Sinclair, o retrato do homem em busca do desconhecido e do próprio eu. Ele tem como mentor o jovem e sábio Demian, um ser humano que desde menino possui uma sabedoria incomum, um conhecimento a mais sobre os mistérios que habitam dentro de cada um de nós.
Em cada linha nos deparamos com Sinclair a desbravar os mistérios, e ao longo da história ele tem que se destruir e se reconstruir para tentar encontrar-se; Deixa cair por terra velhos conceitos, como a criança que ao sair de casa pela primeira vez enxerga o mundo.

"Um dia ou outro, todos
têm de dar o passo que os separa de seus pais,
de seus mestres. Cada um de nós precisa provar 
da aridez da solidão, embora a maioria
dos homens mal a possa suportar e, tão
logo a saboreiam, voltam a rastejar."


E este conceito de destruir/reconstruir representa o ponto central da história: para nascermos temos que destruir um mundo. Seriamos então como o pássaro que na ânsia de viver tem que romper a casca, o mundo onde até então habitava, para poder encontrar o mundo maior e então nascer.

 
"Quem quiser nascer tem que destruir 
um mundo; destruir no sentido de romper
desvincular-se do meio excessivamente  cômodo
e seguro da infância  para a consequente dolorosa
busca da própria razão do existir: ser é ousar ser." 

Para "nascer" por vezes temos que destruir todas as verdades que até então acreditávamos, os ideais que possuíamos e que representam o mundo ao nosso redor, a nossa casca, que ao mesmo tempo que nos protege nos isola e nos impede de ver além. Sinclair, com ajuda de Demian, consegue romper a sua casca e sentir pela primeira vez o prazer e também a dor do nascimento, deste rompimento com seu velho mundo. Em boa parte da história ele se perde e se mostra confuso diante do desconhecido, como um menino recém-nascido, jogado em um mundo estranho. Quando enfim ele descobre que há um sentido na sua vida ele passa a viver plenamente e verdadeiramente.

"Ao lidar com malucos, 
a melhor coisa que podemos
fazer é fingir que somos sãos."
Hermann Hesse

O que mais existem no mundo são pessoas presas em suas cascas, temendo o próprio nascimento e a destruição necessário de seu mundo até então conhecido para crescer e nascer. Temendo a dor deste nascimento e do assustador desconhecido. Hermann Hesse retratou este confronto humano de maneira brilhante!

"O acaso não existe. Quando alguém encontra algo de que verdadeiramente necessita, não é o acaso que tal proporciona, mas a própria pessoa; seu próprio desejo e sua própria necessidade o conduzem a isso."

Lorem Krsna  


30 de junho de 2021, e voltei aqui para acrescentar isso, depois de mais uma releitura.

Eu li Demian pela primeira vez quando tinha 11 anos. Depois com 16, novamente com 22 e recentemente com 27. Raramente eu releio um livro, por mais que ame. Acho a vida curta demais para isso e quero descobrir algo novo. Demian é minha exceção, porque a cada leitura parece algo novo: eu sempre ganho algo que deixei passar. 
Ou talvez esse seja um daqueles livros que você precisa alcançar certa idade  para se colocar no personagem e, assim como ele, se adentrar uma jornada para se descobrir. O fato é: a cada leitura de Demian ao longo dos anos, eu descobri algo sobre mim mesma que não sabia, e acho que por isso ele é meu livro favorito.
Talvez por ser meu livro favorito, eu tenha tanta dificuldade de escrever uma resenha sobre ele. Como falar de um livro que me moldou tanto? O qual eu retorno sempre quando minha vida da uma revirada completa e eu preciso lembrar o quanto é doloroso 'sair da casca' para nascer? Como um pássaro que destrói o próprio mundo para conseguir nascer, como Sinclair que agoniza até conseguir abrir suas asas, mesmo depois de tanto tempo eu tenho que me voltar as palavras de Hermann Hesse quando fico com medo de grandes mudanças. 
Então, com essa resenha extremamente pessoal e nada informativa, eu tento expressar a minha recomendação gritante de: leiam esse livro. 






4 comentários:

  1. O Demian queria pegar a mãe do Sinclair kkkkk

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  2. kkkkk. Pois é. Sinclair apaixonou-se pela mãe do melhor amigo. Na verdade era mais do quê uma paixão, ele a via como... seu destino?
    Tenho uma teoria: Eva possuia tudo aquilo que ele admirava em Demian, a força, a sabedoria,o ar de mistério e ainda por cima era mulher (homens ¬¬), a pessoa que ele via como feita só ele.

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  3. Bom, é uma longa história em apenas e tão somente 188 páginas. O livro foi-me indicado a alguns meses e finalmente consegui curiosidade o suficiente para lê-lo.
    Não esperava que fosse um livro de tanto peso. Fiz varias pesquisas depois de ler, cheguei a algumas conclusões que podem estar certas, ou não. Porém, uma coisa que esta me atormentando a algumas semanas, talvez não devesse ter tanta importância assim, mas eu tenho que saber, e como não tenho a quem perguntar e não posso obrigar as pessoas a lerem, então lhe pergunto:
    Eva morreu?

    Acho que é isso, obrigada desde já...

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    Respostas
    1. Eu fiquei como você, muito tempo matutando. Sabe, eu li esses livro três vezes durante minha vida: aos doze, aos dezesseis e aos dezoito, e ainda não encontrei nenhum livro que me fizesse crescer mesmo, evoluir tanto durante uma leitura como este. Eu descobri que estava mesmo tendo que renascer, que destruir meu mundo, meus preceitos, e renascer.
      Bom, a sua pergunta. Eu acredito que Eva não morreu, e sim Dem. O que gerou a cena inteira da despedida.O por isso do beijo. Apesar de que quando ele fala do beijo que ela não deu, você tem a impressão que ela morreu, mas ao reler acho que não. Fica a cabo de nós, leitores, imaginar se eles puderem ficar juntos ou não. E acredito que o beijo falado, foi o que ela não deu quando ele partiu para a guerra.

      Mas isso é o que acho, acredito que há muitos pontos de vista na estória inteira.

      Obrigada por visitar o blog e comentar, esse é mesmo um livro maravilhoso!
      Abraços.
      Lorem

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