segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Ela se foi

Ontem a noite eu estava escrevendo uma estória sobre superação. Sobre um cara que descobre que vai perder a visão e então decide viajar e ver tudo o que nunca viu na vida antes de não poder ver mais nada. E na estória, um dos personagens falou que "Cada um tem uma maneira de lidar com a dor." Uns se seguram nos outros, outros seguram os outros. Uns não se apegam a nada para não perder mais nada, outros apenas passam o resto da vida fingindo que estão bem.
Eu nunca pensei que sem querer estava escrevendo um recado para mim mesma, pois meia-hora depois olhei uma mensagem no facebook com a palavra LUTO e o nome da minha mãe. E foi assim que eu descobri que ela havia morrido, e passei muito tempo olhando aquela mensagem até tentar ligar para o Brasil, esperando ouvir algo como "Foi um engano." Pois é, não era.
Minha mãe havia falecido.
Eu estava sozinha, do outro lado do mundo, era madrugada e me mandaram ser forte. Nem preciso dizer o que aconteceu, por que nem sei. Quando eu vi já havia amanhecido e eu ainda olhava pela janela para a rua sem acreditar. Lembrando que antes de eu viajar minha mãe me disse que sabia que não ia mais me ver, mas que caso algo acontecesse, eu não voltasse. Por que era minha obrigação, e eu era forte o suficiente. Eu não acreditei, ela sempre falava isso. Não sei se sou forte, ou apenas ainda não acreditei. Talvez eu dê uma surtada esses dias. Talvez eu apenas tranque tudo dentro. Eu suporto bem, eu penso que não sou a única a ter perdido alguém. Meu pai perdeu a esposa, meus irmãos a mãe, meus sobrinhos a avó. Todo mundo está sofrendo e suportando a sua maneira. Quem sou eu para sentir raiva de Deus, ou me reclamar sobre como ou quem me disse? Eu a disse que amava da ultima vez que nos falamos. E quando eu vim embora, ela me deu um abraço e disse que eu voasse. O que eu posso dizer é que ta doendo, claro que está. E que eu ainda estou perdida, como se arrancassem um órgão vital e eu tivesse que continuar vivendo ainda. Eu só sei que me mandam ser forte, e eu tenho vinte e um anos, e não sei o que pensar. Pois é.
Essa manhã fui ao parque, sentei no cais para o rio vendo os barcos passando. Vendo as crianças brincando. As pessoas passavam e perguntavam se eu estava bem.  E eu dizia que não sabia, então me deixaram em paz. Na saida do parque meu melhor amigo vinha na estrada e quando percebi já estava agarrada a ele. Lembrava que havia ligado para ele a noite, e ele queria vir e eu disse que queria ficar só. Ele a amava também. Ele não disse nada, nenhuma palavra como "suporte", mas não precisava dizer nada mesmo.
Talvez eu ainda não acredite. E todas aquelas fases do luto vão ser furadas. A verdade é que não suporto bem, mas vou tentar. Talvez eu nunca aceite de verdade. Eu vou ficar pensando em "ses", e claro, em tudo o que não disse. Que minha mãe era jovem demais, que minha família é jovem demais. Mas eu vou ficar bem, de algum modo, por que eu sei que minha mãe me amava, que ela era orgulhosa dos filhos. Não duvido disso. Por que sei que meu pai me ama, meus irmãos, nos amamos. E sei que quando eu voltar, um dia, a dor vai bater forte, talvez pior do que agora.
Mas o que eu tenho certeza mesmo é que vou fazer valer tudo o que ela me disse, de bom e de duro. Eu vou fazer tudo certo, o que eu puder fazer. Vou fazer valer o orgulho que ela me disse que sentia. E talvez por um tempo eu odei natais e fins de ano, mas um dia talvez isso passe.
Eu amo vocês, minha família, queria estar aí, e ao mesmo tempo não quero, por que ainda fujo, sou esse tipo de pessoa, e parece que ver é aceitar que é verdade. Mas eu vou ficar bem, por que sou filha dela. E talvez escrever isso seja a maneira que estou tendo para colocar um pouco, a ponta da iceberg para fora.
Estou escrevendo no automático. Talvez seja meu  chorar, afinal.
Espero que você esteja bem agora, onde esteja. Eu sei, mãe, que sempre acreditou nos planos de Deus. Eu vou ficar bem. Sou sua filha, afinal.

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