Me vi em meio à multidão que caminhava. Minha confusão ao olhar ao redor me fez tropeçar e quase ser jogada aos pés dos que não parecia enxergar-me ali. Endireitei-me a custo e fui impelida pelo fluxo a caminhar à frente.
Ao meu lado, uma senhora de cabelos brancos inflamou o peito em uma cantoria agourenta, seguida pelos demais em um coro triste que me deixou arrepiada.
-Segura a mão de Deus e vai...
- Quem morreu? - Perguntei hesitante. Ela sequer me olhou - Senhora?
Mais três tentativas até notar que ninguém me ouvia. Ninguém enxergava-me. Mera espectadora era eu ali.
Procurei ao redor quem levara-me até aquele lugar confuso: o lobo cinzento que acordara-me na campina. Não o vi em lugar algum, e na verdade mal podia procurá-lo em meio aquela multidão. Seja quem for que morrera, era obviamente muito popular.
Segui a multidão, em um misto de curiosidade e apreensão.
Chegamos com custo ao cemitério. Segui o fluxo e entrei, ficando afastada durante toda a cerimônia que se seguiu, observando ao longe.
Vi descerem o caixão, e a multidão aos poucos se dispersar. Ao fim, só restara no local eu e a garota do rosto encoberto que observava a lápide recente na terra ainda úmida. Ela apertava com força uma rosa nas mãos, que sangravam nos espinhos. Senti-me intrusa ao observar uma dor alheia, em uma história que não pertencia-me.
E de repente não sei de onde eles surgiram. O rapaz estranho estava ao lado dela, a falar algo que ela ignorava ainda de olhos fixos.
E o lobo cinzento, ao meu lado, surgindo do nada a recostar seu dorso na lateral de meu corpo sentado em uma lápide ao longe do casal.
Ele encarou-me enigmático.
- Oi amigo - alisei seu dorso sem medo e ele cheirou meus dedos. - Por que queria que eu visse isto hã?
Olhamos a cena na lápide, e aos poucos uma compreensão me abateu.
- O enterro... Era dele não é?
O lobo ganiu baixinho, e aquilo não pareceu tão absurdo quanto deveria ser.
O rapaz nos encarou, me olhando de um jeito transtornado. A moça então virou-se diante de um longo uivo de meu amigo, e finalmente vi seu rosto.
No mesmo momento cai da lápide.
Eu a conhecia!
Acordei com um grito reprimido na garganta. Fazia frio e ainda assim suava muito. Uma grande tristeza e confusão me abateu. Corri e escrevi o sonho, esperando que este desfecho não seja um presságio infeliz.
Só um sonho.
Só um sonho.
Lorem Krsna
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