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By Lorem Krsna |
É difícil ser pai e se tornar responsável por outra pessoa além de si mesmo. Os seres humanos são por natureza egoístas, ser pai é uma quebra desse ciclo e estabelecer um principio que parece simples, mas não é de nenhuma forma: pensar em alguém antes de pensar em si.
Eu acredito que seja como entregarem para você uma tela em branco e pinceis e tinta. O que você pintar de início, pode sim definir o caminho que o desenho irá tomar, sua forma final, mesmo que a continuação do mesmo seja tirado de suas mãos. Isso explica por que o esboço errado, mesmo com tantas tentativas de conserto ao longo da vida, por vezes acabam deixando marcas permanentes em um quadro. É muita responsabilidade, não é algo que se tente fazer levianamente.
Há pessoas, eu noto as vezes, que nasceram para ser pais. Simples assim. Mesmo sem perceber, eles fazem tudo certo, mesmo com os pequenos desvios. Digo isso pois, mesmo com exceções a regra (que tem muitas), por vezes podemos ver o reflexo dos pais no que os filhos se tornaram - a obra completa que iniciou no esboço suave. Assim como existem pais que se põem no principio que filhos são brinquedos, robôs, ou então um "mini-eu", em que podem extrapolar todas as frustrações vividas, de coisas que não conseguiram ser, tentando compor toda uma obra de acordo com a sua corrigindo imperfeições. Um recado: a obra-completa não fica a seu cabo. O pintor de tudo isso, no fim de tudo, é a vida. Cada pessoa, é um quadro diferente, que encontram artistas diferentes. Filhos não são bonecos que são dados para atingir uma perfeição, ou mesmo um produto de uma vida frustrada. Se você pensa dessa forma, espero de verdade que seus filhos encontrem bons artistas na vida. Você, lamento dizer, não sabe pintar. De outra forma, pais maravilhosos, fazem bons esboços, e a obra termina uma falha: isso não se pode prever. E por isso, ser pai é o "trabalho" mais incerto que existe. Você simplesmente entrega sua vida, mas do que cuida de uma. Você tem que expor suas falhas, e você tem que tentar ser o melhor, pois querendo ou não, você se torna uma referência, por vezes daquilo que seu filho deveria ser, e em muitos casos, daquilo que ele nunca vai se tornar. Como eu disse, você não é e nunca será o artista absoluto dessa obra chamada "filho".
Eu fui um esboço de meus pais, mesmo que esteja me tornando uma obra tão diferente, assim como meus irmãos são de mim e deles, todos nós temos traços deles, detalhes que no fim compõem um todo. Eu tive sorte: meus pais foram bons artistas. Eles guiaram a família como pintores natos, ou mesmo como maestros regendo uma orquestra. Suavemente, por vezes, sutilmente. Não criaram robôs ou pequenas sombras. Eu não tive sempre tudo o que eu queria, e assim aprendi um principio importante de inicio: meios de correr atrás. A vida me deu limões, meus pais me deram o principio de como cuidar de limoeiros. Hoje eu tenho limonada a vontade. Parece bobo, mas é verdade. Isso que eu tenho de mais importante que nossos pais deram a meus irmãos e a mim: opções e visão. Nós fomos amados, instruídos. Nós ouvimos o "não" e o "você consegue". Eu não fui empurrada, eu não fui puxada. Eu fui muito habilmente conduzida até conseguir andar sozinha. Bem, tem funcionado. Meus irmãos hoje são obras muito lindas, e já fazem seus esboços, e espero que sejam tão bom artistas quanto nossos pais foram. A vida vai tratar de completar com tinta cada espaço, como vem completando a mim.
Por último, o tão fabuloso no trabalho de ser pai, é que no final, você entrega aquilo que você cuidou para a vida. Acredito que seja semelhante ao sentimento de pegar seu esboço, fazer uma aviãozinho e jogar pela janela...Deve ser isso. Mas na verdade, a realidade é que você entrega o principio da sua obra para ser preenchida, escolher suas próprias cores e tons. É admitir e confiar, mesmo sabendo que o mundo pode ser um devorador de filhos cruel, eis uma simples realidade: seu bebê vai ter que ir embora, apenas deixe a porta aberta para ele buscar abrigo e conselhos quando precisar. Pais não pintam para si mesmos, eles fazem obras para a vida, para serem apreciados pelos outros. E mais do que isso, eles constroem artistas, que farão suas próprias obras.
Eu não sei que tipo de artista me tornarei, ou mesmo os tons exatos de quem sou, mas eu fui presenteada por meus pai com cores maravilhosas: o amor, a bondade, a firmeza e a confiança. Eu cresci vendo o amor supremo de minha mãe pela família. Como uma pequena raposa arisca e amorosa, que seria capaz de ariscar tudo pelos filhotes, para protegê-los, atraindo qualquer tiro de caça para si. Eu cresci sobre os olhos bondosos do meu pai, e com ele tento aprender coisas como tolerância e clareza. Eu tive sorte, nunca deixo de repetir. Mesmo minhas falhas, meus tons obscuros, nada veio deles. Eu fui construída com amor sem amarras e sem ser sufocada. Agora, eu estou fluindo. Eu sou o aviãozinho jogado pela janela com muito trabalho, e estou em saindo muito bem, obrigada.
Espero de verdade, que quando for preciso, eu seja tão boa artista quanto meus pais foram.
Lorem Krsna.
P.S: Para meu pai, o melhor artista que conheço, meus irmãos, que estão aprendendo esse ofício, e minha mãe, que nasceu para pintar, que ela esteja bem onde quer que esteja agora.
E para todos os pais e mães por aí: boa sorte, vão precisar.