"Acha que o amor pode mudá-la? Então acreditará no que direi. É sobre um cara, bonito por fora e feio por dentro. E há uma maldição. E o amor muda tudo. E se não fosse uma história? E se fosse verdade? Pode imaginar... esse amor?" (Kyle, A fera)
Quem nunca ouviu falar do conto da Bela e a Fera? Particularmente, um de meus contos de fadas favorito quando era criança. Imaginem então, a história deste amor capaz de mudar tudo nos tempos da atualidade?
Este é o tema do filme a Fera, o conto de fadas transferido para a modernidade.
Kyle, o garoto que se transforma na fera é um jovem que acha que a única coisa que importa na vida é a aparência, que como ele mesmo fala "é proporcional ao quanto as pessoas gostam de você." Kyle vê tudo mudar quando é amaldiçoado por uma jovem bruxa, que o transforma no reflexo exato do quê ele é interiormente. Imagine uma fera aí bem diferente da história, nada de pêlos e chifres, mas um garoto coberto de tatuagens e cicatrizes por todo o rosto, e uma árvore tatuada em seu braço, que muda conforme o tempo. Se Kyle não encontrar alguém capaz de amá-lo até que a árvore floresça, ele permanecerá transformado para sempre.
O pai de Kyle o tranca em uma casa para que ninguém o veja, e o coloca aos cuidados de Zola, uma empregada e Will, um tutor cego.
Todas as pessoas que ele achava que gostavam dele o abandonam, e o traem.
Aos poucos o garoto muda, passando a importar-se com as pessoas, e apaixona-se por Lind, que era sua colega antes de ser amaldiçoado. O amor por Lind o muda, uma garota peculiar, que assim como a Bela dos contos valoriza mais o interior do quê a aparência.
Com um toque de humor, e em uma receita dos filmes jovens que ganharam o público, esta nova versão se tornou bem interessante (claro, ainda prefiro a original, rs). Mas não bem sobre isso que eu queria falar. Na verdade, desde que assiti ao filme fiquei intrigada, matutando com algumas coisas.
Sempre acreditei que você se torna um reflexo que pensa, e de como agi. Seus pensamentos são sua essência, o que chamam de espírito. A aparência é importante, seria hipócrisia de minha parte dizer o contrário, mas não é para o modo como os outros vêem você, mas como você se vê e se sente bem consigo mesmo.
Um rosto bonito por si só pode impressionar, mas não engana o que você trás dentro de si. Como uma bela estátua, que serve para enfeitar e só. É preciso mais do quê isso.
Suas idéias, aquilo que você faz para o outros definem o que você é de verdade, e embora alguns possam discordar, vejo que apesar da indústria muitas vezes pregar o contrário, mais e mais pessoas enxergam desta forma.
No filme o jovem Kyle possuia tudo o que achava que precisava: popularidade, dinheiro e beleza.
Mas era cercado por falsos amigos, um pai que não lhe dava a mínima e superficialidade para tentar preencher um vazio que não admitia que existia. Só quando perdeu tudo, pôde enxergar quem era de verdade, e tentar mudar isso. Encontrou amigos verdadeiros, que gostavam dele além da aparência e se tornou assim o homem que era capaz de ser.
A beleza simplesmente se vai, ideias, uma personalidade, o bem que você faz aos outros, estes permanecem por muito mais tempo. Um amor a base de aparências é como uma palavra escrita na areia, basta um simples vento e apaga-se. Quando você ama o que a pessoa é de verdade, com seus defeitos e virtudes, você constroe algo além do superficial.
Ver além do que parece óbvio, do que todos enxergam dentro dos demais. Não apenas por aparência, não por poder de qualquer tipo, mas pela essência, pois lá esta a verdadeira beleza (ao ausência dela) de todos nós.
Lorem Krsna
Algumas observações sobre o filme:
- O pai de Bela, o louco inventor matusquela da versão disney na versão moderna é um homem viciado em drogas que coloca a filha em perigo ao matar um traficante cujo irmão jura sua filha de morte por vingança. Kyle oferece sua casa para protegê-la.
- Nada de cavalos. A fera moderna tem uma moto super veloz.
- Diferente da Bela, Lind não fala com pássaros (graças a Deus esta tem amigos!), mas é louca por jujubas e música, alimenta os pobres e tem como sonho visitar Machu Pichu.
- O casal principal pelo jeito adoram uma rede social.
- Nada de um castelo encantado, quem ajuda Kyle é uma simpática empregada jamaicana e um tutor cego. Kyle pede a bruxa que consiga trazer para o país os filhos de Zola e recuperar a visão de Will, o que só acontecerá quando ele tiver êxito em seu intento e quebrar o feitiço.