"É, meus caros. Sou adepta ao romantismo idealizado das cartas, flores e palavras belas que muitos temerosos de rótulos de antiquados não admitem. Gosto de ouvir as palavras certas, das surpresas mais simples, e das canções erroneamente tachadas de demodé. Talvez eu seja mesmo uma velhinha de vinte anos, que ainda se encanta com folhas amareladase palavras simples, ao invês de grandes exibições que envolvem mais o ter do que o sentir...Talvez tudo isso seja verdade, e a metade da minha laranja tenha apodrecido por aí e eu nem sei que meu destino, essa romântica chata,seja ficar mesmo só. Mas é assim que me sinto, e o resto eu deixo para lá. Dane-se. "
" Detesto mudanças, mas necessito delas como necessito de oxigênio. Na verdade, nasci com alta capacidade para dar adeus as coisas, mas ao mesmo tempo ando com o passado, como se minha vida fosse um depósito de velharias, nos gostos, nos gestos, na maneira de falar. Mas chega um momento que é a hora de jogar o lixo das gavetas, rasgar as fotos, as cartas e saber o momento de se despedir, e quando o faço, não olho para trás, é Shift+ del e já era.
E para ser sincera, ando pensando se isso é algo bom. Se não seria saudável chorar nas depedidas, atender a velhos telefonemas, dar um sinal de fumaça para o que já foi, sei lá. Mas atualmente, quando penso em passado, parece uma vida inteira que passou e que não tem mais sentido remexer...
É hora de mudar. Detesto mudanças. Mas é hora de mudar. "
Tem algumas coisas que nunca vou compreender, ou entender, ou aprender. E vivo bem assim, sabendo que posso ser terrivelmente limitada, não me fazendo entender. Não compreendo por que as pessoas quando gostam de alguém fazem tanta besteira, agem tão contrárias, querem tanto provar que são algo que não são, esquecendo quem são de fato. Nem quero aprender o jeito certo de fazer a coisa errada... Será que é tão dificil assim deixar tudo isso claro? Pode ser chato o meio jeito apático, distraido, por que quase sempre finjo que não ligo, quando na verdade me importo... Mas não sei de fato como contornar certas coisas, quando a oportunidade passou. E assim são as pessoas, só enxergando quando as coisas passaram, imginando conversas inteiras, melhores frases de efeito quando já é tarde. Como bater palmas para o espetáculo depois que o artista não pode mais ouvir. E por isso, meus caros, estamos tão cheio de arrependimentos... E eu não escapo disso. Mas tem algo de que não me arrependo. E é de ser o que sou, tentando melhorar, tantas vezes falhando, mas dando o melhor que eu sei.
"Aos homens? Nada. Ei de viver com os lobos para aprender o que nós tolos sufocamos na falsa civilidade... Ei de viver com os lobos! Sim! Não estes que mancham seu nome e me cercam, mas os que ainda sabem o que é lealdade... " Lorem Krsna
"Em meus olhos pode ver compaixão, medo e o nada... Posso ser sábia como a coruja, ou tola como o homem quando pensa que tudo sabe e que tudo vê. Pode ignorar o que vejo, mas quando ignorar o que teus olhos veem estará perdido." Lorem Krsna
Me disseram que eu sei sofrer pelas coisas erradas, mas nem sei se existe algo certo para sofrer ou não sofrer. Se existe uma dor menor que a outra, ou uma lágrima que cai de forma diferente. Não sei se é errado esse meu jeito de sofrer, ou se sofrer me parece tão errado... Assim, de maneira silenciosa, meio pretenciosa, meio sem porquê, eu vou carregando meus fardos, que para tantos parecem penas, mas para mim tem o peso dos céus na coluna vergada. E você vê estes meus olhos cansados, sem saber se é tristeza ou pensamento... E nem sabe se minhas crises são mero fruto do surto de adrenalina que explodem das sinapses para fora...
Me disseram mesmo que não é asssim que se sofre, nem por pessoas assim, situações assim, ou momentos como estes... Então, por favor, quem carrega esta sabedoria, pode me ensinar se há no mundo um jeito certo da fazer algo tão errado como sofrer?
"Pega seu violão baby, e vamos tocar! Vamos tocar que as coisas não estão fáceis para ninguém...
Cansei de dar de cara com o muro, por que quem a gente gosta tem que ser quem não gosta de nós?
Eh baby, estamos no olho do furacão e ninguém enxerga. Somos os invisíveis, e eles ouvem nosso som. Nós ouvimos o silêncio e as entrelinhas do não dito.
Então pegue o violão e vamos tocar. Vamos cantar e celebrar o que não se celebra.
Vamos cantar, por que cansei de sofrer por sorrisos bonitos que não são para mim..."
Segue a madrugada insone, nas paredes do apartamento que tudo engolem, e eu vou seguindo noite adentro no turbilhão de pensamentos que pintam as paredes da minha cela. Lá fora, nunca dorme o gigante de pedra, em mim, nunca dormem as saudades, as vontades e as ausências... Nunca dormem os nomes, os rostos, e as fotos guardadas na gavetas. Seria bom jogar fora as cartas antigas, tirar a poeira dos móveis e tentar seguir em frente. Seria bom ler novos livros, ver novos filmes e estar em outro lugar, onde pudesse cantar, voar e não rever sempre as velhas cenas, reabrindo as velhas feridas, ouvindo o vento que atravessa sempre a mesma janela e passa levando tudo dentro de mim. Seria bom jogar tudo para o alto, pegar o violão e a mala e tentar mudar de nome, de endereço... Mas vivo sempre na mesma trincheira, a espera de um novo tiro, se não há mais nenhum lugar inteiro?
Mas não. Só sigo a madrugada, pensando sempre as mesmas coisas, criando os mesmo diálogos que não irão acontecer, revendo as mesmas fotos que não consigo queimar, lustrando as grades de minha cela particular, e fingindo que tudo vai ficar bem pela manhã, quando trancar o baú das lembranças, esconder os fantasmas debaixo da cama e sorrir poderosa para um novo dia.
Eu queria mesmo era te construir em palavras esta noite. A partir de versos, montar teu nome, a partir de rima, refazer tuas nuances. E da mais bela canção, lembrar como era te ver sorrir. E das palavras mais tortas e importantes, refazer teu mais fiel defeito, e a mais inútil ironia para que fosse completo e inteiro. Mas só construo fantasmas de velhas cartas, de palavras mortas, de canções demodé que me fazem pensar, mergulhar e afundar no que não existe mais. Então, só segue a madrugada. Com as velhas cartas, velhas notas e velhas grades. Nada de novo por aquí.
Sou atrapalhada, com situações, coisas, pessoas e sentimentos. Parece que viro sempre para o lado oposto ao da multidão, e na hora do discurso programado, falo o que vem na cabeça. Excêntrica ou não-convencional, vejo o mundo muitas vezes de fora do centro da dança, na platéia e não no palco, e, se lá, improviso no correr de meu papel, ora como mocinha ou vilã, no certo e no errado, fora do compasso da dança e pisando no calo de muita gente...
Talvez meus gostos, meus gestos, meus medos e desejos pareçam desconexos e fora de cena, de época ou de noção, pois vou rir da piada mais tola e dormir na mais elaborada comédia se assim quiser. Posso organizar meus discursos que nunca acontecerão, cantar desafinada a música que achar bela, tocar a mesma sequência de acordes, se assim meu mundo se equilibrar. Meus defeitos são manjados, e minha estranheza já não publica dialogos, e assim, sumo no cenário a observar...
De fora do palco, longe do centro inflamado dos pseudo-robôs polidos, eu aplaudo o que todo mundo é, mas que muitos escondem na tentativa de aceitação forçada: Seres diferentes, excêntricos, e por isso, nenhum pouco convencionais.
"Esse meu jeito torto, sem tato e cheio de vontades vive longe de tua estante de perfeições. Não fui feita para convenções e calmarias. Não fui feita para esquecer e me curvar. Meu comportamento segue o ritmo e o humor de meus mais belos ou doloridos dias. Se ainda assim você me amar, saiba que sou capaz tanto de curar quanto de ferir. Tenho garras, tenho asas, tenho sonhos e teimosias. Sou tempestade, sou chuva e sou sol. Sou o mesmo vento que te acaricia e o que destroe tua morada. Sou a palavra que te acalenta e a que te joga na realidade. Sou capaz de mentir. Sou capaz de gestos duros ou os mais gentis. Eu sou o que sou. Sou a que foge e a que fica para enfrentar. E isso que sou. É pegar ou largar. "
"Ás vezes a gente sofre por imaginar querer sempre o inalcançavel. Mas, sei lá, quem sabe não é o seu desejo que seja suplantado por fracassos... As vezes, simplesmente o casulo não rompeu, e quando de romper, você terá asas para alcançar o que antes parecia impossível."
Se um dia eu deixasse de ser quem sou, você lembraria? E talvez diria aos demais que eu já sonhei, senti e me apeguei as coisas. Que eu já tive asas e pensei em voar alto, e isso foi bem antes de eu cair... E se eu esquecesse daquilo que fiz e que idealizei, você me diria? Apontaria meus anjos e demônios, sem mascarar a verdade sobre as inverdades que eu teimaria em me apegar? E seu caísse do alto de minhas angustias e medos, afogadas nas coisas triviais na fuga eminente do que deveria ser visto, você tiraria a venda de meus olhos, mesmo que lhe jogasse pedras e proferisse barbáries em teu nome? E se eu mudasse, mudasse ao ponto de deixar de lado o que fui e o que acredito, afundando meus sonhos, trancada no quarto escuro sem querer sair? Você me falaria sobre a importância de arrancar o mal do porão e o expor a luz? E se... Por um dia, em meio as palavras tolas, eu jogasse em seus olhos a areia da raiva, você poderia ver a verdade por trás de tudo e ainda assim seria capaz de perdoar? O que eu peço, é aquilo que não sei pedir em palavras, e ainda assim, talvez você visse, e fosse o único a ver em meu olhar, o quanto eu tenho medo, o quanto posso decair, e o quanto posso retornar do fundo e me recuperar sem em mim alguém acreditar. Se um dia, eu esquecesse quem eu sou, você me lembraria, e apontaria na rua as coisas que quis fazer e que fiz, as pessoas que amei, os sonhos que almejei, e as verdades que em minha demência esqueci. Se eu esquecesse que tenho asas, você me ensinaria a voar novamente. E seu eu perdesse minha voz, você me mostraria o prazer de escutar as mais belas canções vindas de tudo, até do que muitos julgam ser silêncio. Se eu me perdesse, você seria a ultima pessoa a me desacreditar, e seria a lanterna que me guiaria para o caminho de volta para casa.
Andei meio perdida no mundo, solta ao vento, passarinho fugida do ninho, procurando abrigo sem encontrar. Andei meio sem rumo, procurando canto no mundo, lugar com cheiro de lar, com som de silêncio, onde minha música ecoe, minha risada retumbe, meus queridos repousem, longe do ferro e do fogo dos gigantes adormecidos.
Só queria um lugar onde o som do meu violão pudesse fluir, e pudesse descançar das coisas que não entendo nem nunca vou entender, do querer descompensado de erros, enganos e a vontade de engolir tudo me um gole só, engasgando-se com a própria presa da sede de querer sempre mais.
Queria apenas fluir como esse som...
Quero encontrar esse lugar, onde ser sonhadora seja uma benção não um espinho, onde as coisas antigas sejam um museu de modernidades, e onde ser eu mesma possa ser visto pelos demais, assim como hoje aprendir a ver, algo tão natural como o sopro de vento em um fim de tarde qualquer.
Quero esse lugar, que seja um lugar qualquer... Mas que seja onde eu finalmente encontre o abrigo que deixei para trás.
"Fui chutar uma emoção e esgorreguei em um acaso. Nunca uma queda foi tão conveniente precedida por um bater de asas no céu. " Lorem Krsna
"Posso até medir minhas palavras, mas meu pensamentos não permitem censura. Você pode colocar o pássaro na gaiola, não impedir que ele sonhe com o céu. " Lorem Krsna
Chegando o final do ano, e 2012 foi um ano especialmente “musical” para mim, por isso mudando um pouco o perfil das postagens da trilha de fim de ano, irei fazer uma trilha nacional e outra internacional.
São músicas que de alguma forma marcaram momentos importantes para minha vida este ano, e que recomendo totalmente. Este é o primeiro, a trilha “internacional”, é algo bem variado no geral, mas todas, ao meu ver, são especialmente marcantes.
"Eu sofro e caio, e para todos estou sempre bem. E me destruo e me reconstruou longe dos olhares, sem ninguém... E tantas coisas deixei findarem e para tantas eu findei...
E tantas coisas quis gritar e na hora exata me calei.
Eu sei. Cometi erros, fiz guerras, levantei punho e não estendi a mão.
Rezei a missa errada, não esqueci e fingi que era perdão.
Machuquei quem me machucou, me feri pelas coisas erradas.
E na hora da bala me abaixei na trincheira. Do nada e por nada...
Eu devia ter plantado mais flores, lido mais pessoas e menos livros?
Devia ter escolhido melhor minhas guerras ou escolhido não guerrear?
Talvez eu tenha mesmo machucado gratuitamente, me importando demais, feito muitos pedestais e menos colchões que amenizassem quedas...
E sei que por meu teto de vidro, preferi não atirar pedras...
Mas e aí? O que fiz?
Cai, me feri, amei, odiei e vivi.
Cometi erros, fiz erros e me perdi.
Fiz tudo e de tudo, dando o pouco do muito que existe aquí.
E só quero que no fim, não digam que não dei o meu melhor, que não dei o melhor de mim!"
"As vezes me sinto meio assim, meio louca, meio perdida. E das coisas todas que fiz na vida, nem sei se foi por mim.
E eu me sinto uma folha lutando contra o vento, procurando porto, procurando alento, Sem saber de que árvore ao certo vim.
Talvez seja verdade, e eu me iluda em lutas que só vou perder.
E ainda não entendi por que as pessoas que amamos vão nos machucar.
E eu nem sei por que luto com esse vento dentro de mim, só quero agora que ele me leve para algum lugar... Onde as pessoas não machuquem com palavras desneccssárias... Onde quem gente ama vá sempre nos amar também... Onde eu não seja uma tola estranha, olhando para os lados sem saber o que tanto procuro, me importando e fazendo tempestade por coisas poucas e abrindo mão de tudo no fim... Onde não deixe o vento levar o que resta, o que me completa, deixando esse buraco dentro de mim. "
Há uma diferença entre ser sozinha e estar sozinha.
Em ter amigos legais e amigos reais.
Em pular do abismo ou tentar voar.
Às vezes a vida anda meio maluca, mas o problema não é a vida.
E você aguarda novas semanas, porque o presente não agrada e você não quer enfrentar.
E você cai, e todo mundo te pressiona a andar e fingir que está tudo bem.
E você acaba sendo infeliz por pensar muito antes de falar.
E te estendem a mão e você não vê, procurando pedras no chão.
E tudo é visto pela ótica preto-e-branco de um idealismo simplório de que devemos fingir que está tudo bem.
Não está. As coisas não são fáceis, nem mesmo sair do quarto escuro de um mero observador e encarar o sol.
Ou perceber que vocâ acabou se acostumando tanto em ser sozinha que afasta as oportunidades de entender o que é amar e se sentir amada.
Ou então se vicia nas pessoas erradas com a ilusão de que não liga para nada, e que pode se tampar o buraco no seu peito com cola e papelão.
Isso não é meramente estar triste, é ser triste.
Mas então você percebe que sente falta crônica de tudo que está a seu alcance e de que você foge...
Que o presente é algo de que não se pode fugir.
Que se você não tem asas, pular do abismo é idiotice...
Que a vida segue normal, o problema é com você.
Que amigos reais não irão te iludir para fingir que sua vida é um comercial de margarina, mas vão abrir seus olhos. E não irão te ferir gratuitamente para se sentirem melhores do que você.
E você tem que levantar porque quer, com suas próprias pernas e reaprender a andar, pois a vida não espera por ninguém.
E você tem que agir, sabendo que você é a única que pode melhorar sua situação, e não fugir das coisas e da vida.
Você pode culpar o mundo por todo o caos mas só você pode resolver o caos dentro de você.
Há alguns dias atrás estava conversando com meu melhor amigo sobre gostos diferentes, envolvendo música, literatura e companhias, e nos bateu o dilema como as pessoas podem nascer em um mesmo lugar, fazer parte de uma mesma família, com a mesma criação e ainda assim criar uma personalidade tão diferenciada dos demais, muitas vezes parecendo mesmo que vivem em outra sintonia, em outro planeta...
Mas é bem simples, se for pensar na verdade, você pode até ser adepto de que o meio faz o homem, mas eu ainda acredito que o homem pode adequar o meio, e em meio ao caos criar uma personalidade diferenciada. Mas as pessoas são diferentes, alguma simplesmente não suportam lutar contra a corrente e a seguem, outros não se sujeitam, e se veem que algo não lhes agrada, tentam fazer o oposto...
Assim nascem os deslocados, pessoas que podem enxergar "além das sombras na parede da caverna", mas já dizia Platão em mito da caverna como estas pessoas podem ser mal-vistas...
Na história estamos repletos de grandes homens, que fizeram coisas grandes, mas que aos olhos da sociedade eram estranhos, deslocados, loucos... os "sábios idiotas". Todas pessoas admiráveis que questionaram, que não aceitaram o que para todos seria óbvio e nadaram contra a corrente. Que aceitaram a verdade da humanidade, que somos todos diferentes, temos pensamentos diferentes, dons e talentos diferenciados, podemos seguir qualquer caminho, não importa a circunstância, temos escolhas, e respondemos por elas.
Por que chega aquele momento que você entende que não há uma só verdade, e que aquele outro não está certo ou errado, mas que ele pensa diferente, tem uma opinião diferente, e que desse modo, cada um tem sua verdade, seu saber e seu fardo a carregar por si só, e é tolice aceitar tudo o que lhe dizem como a verdade absoluta do universo,s em questionar, sem tentar descobrir sua própria maneira de pensar e trabalhar a questão.
Desde que compreendi isso deixei de me importar que meu pensamento migrasse para sintonias diferentes, com gostos diferentes, e o modo de gostar também diferente, pois sei que há milhões de pessoas assim, que se sentem ou se sentiram assim, meio deslocadas, teimando com o vento enquanto as pessoas querem ser folhas secas submissas. Há sim, milhões de pessoas que já aceitaram que ninguém é igual, então elas não precisam fingir que assim o são. Viva a elas, ditas por vezes loucas,ou sábias, ou visionárias, ou esquisitas, o que for, mas que são o que são.
"Se agora não me enxerga, é por que nunca fui tão sólida, a invisível
mais visível. Repleta de enganos e faltas, mas real e simplesmente
humana. Guarde então sua forca e archote, pois aqui nada mais
encontrará do quê o reflexo de si mesmo." Lorem Krsna
Caro estranho amigo
Hoje me bateu uma vontade de escrever uma carta. Carta mesmo, no papel amarelado e na caneta de pena, com todo o jeito de antigamente. Eu sei que parece antiquado, mas há alguma coisas que nunca deveriam ficar no passado, e escrever cartas deveria ser uma delas. E eu sei que você deve ter uma opinião parecida, uma vez que sempre me pareceu meio perdido nessa época, o que tornou tudo isso apropriado.
Então, como disse, quis escrever uma carta, e já faz algum tempo que me acovardava nas tentativas, mas nos últimos tempos nesta cidade estranha que vem devorando tudo vejo na noite o som de violão nos bares da vida boêmia e tudo isso me lembrou de você, velho poeta de décadas passadas que sempre foi. E então eu sabia que deveria escrever, e se iria entregar ou não seria assunto para depois.
Nestes dias faço vinte anos meu amigo. E não sou mais criança, adolescente nem mulher adulta. Não sou nada, um velho paradoxo meio destacado de todo resto. Não posso dizer que vivo infeliz, pelo contrário, as coisas em sua maioria acabam se arranjando em meio aos redemoinhos que bagunçam tudo, mas a verdade é que sou feliz e infeliz ao mesmo tempo, e sempre serei assim. Há algo em meu pensamento que me impede de experimentar o êxtase da total felicidade, mas creio que todos na verdade são assim. Tristes e Felizes.
Gostaria de contar como anda minha vida, e aconteceu tanta coisa desde nossa ultima conturbada conversa! Faculdade, morar fora, responsabilidades e muitas decepções, acertos e enganos. Talvez isso resuma tudo, pois de resto "ainda me apaixono por tudo e não amo quase nada". Mas estou aprendendo a amar aos poucos, e a sofrer, e a viver nesta plenitude de emoções confusas. Você sabe, caro amigo, que sempre fui meio antiga demais, e continuo assim. Ainda prefiro receber flores e palavras, e detesto exibições gratuitas e a algazarra das grandes multidões. Por isso talvez seja um pouco triste vivendo aqui, em um lugar tão libertador que me prende dentro das quatro paredes do apartamento. Eu nasci para ser livre, para voar e não ser enfeite de estante...
Mas enfim, faço vinte anos e não sei quase nada da vida, nem sei se um dia saberei de algo que me faça ter as respostas que procuro, como o porquê de tudo que aconteceu com nossa amizade, ou que caminho tomei para ter chegado a este lugar. Ou o porquê de não conseguir deixar de ser meio triste sempre, mesmo que o momento devesse ser pleno de felicidade. Talvez minha cabeça tenha uma sintonia diferente, dentro dos livros, da música e dos amigos tantas vezes também deslocados de tudo.
Mas acredito que estou sendo feliz do meu jeito, e espero que você também esteja e assim fica tudo certo. O mundo continua a girar, as pessoas vivendo suas vidas, mentiras e verdades, envelhecendo, nascendo e buscando suas respostas ou fugindo delas. É, algumas coisas nunca mudam, mas outras mudam cada vez mais, e vou me apegando a isso. Pois hoje me olho no espelho e não noto nada de diferente, mas sim, estou fazendo vinte anos e isto deve significar alguma coisa.
Eu me distraio e saiu tropeçando pela vida, perdendo coisas, errando as ruas ou esquecendo a piada pela metade. Mas eu também percebo, e passo mais tempo observando do que vivendo (infelizmente), o que eu percebo me deixa triste ou feliz. E as vezes (muitas vezes), eu queria fechar os olhos e esquecer do que vi, pois assim eu guardaria mais amizades, ou o que eu achava que era uma amizade...
Mas as coisas não são tão fáceis. E quando você observa você percebe, compreende e escolhe entre guardar silêncio...
E você pensa. E me desculpem os filósofos, mas pensar demais não é bom. Por que te leva a uma conclusão, e tomar consciência, e no fim das contas, as vezes abrir os olhos te deixa cega e isso é uma coisa ruim.
E você acaba perdendo uma certa inocência. E acho que isso significa crescer.
E vem aquele baque, por que longe do que pregam tantos, crescer é a pior coisa que existe.
Andei pensando em segundas chances. Nas vezes em que quando tudo parece acabado, surge uma página nova, uma solução, tão milagrosa por ter sido obvia e a gente acabou não enxergando.
Segundas chances são como flores nascendo do esterco, sabe como é, a construção de algo belo e salvador depois de tanta coisa inútil que se fez. E eu venho mesmo fazendo umas coisas inúteis, e estou precisando que cresçam uma flores para enfeitar minha janela...
É. Não sei se mereço, talvez todo mundo em algum momento mereça e precise ter uma renovação, uma chance novinha, uma folha em branco depois dos rabiscos. Afinal, ninguém é tão bonzinho que nunca tenha deixado um rastro de "esterco" atrás de si, nem é tão mal que não mereça uma flores bonitas nascendo em seu caminho...
Há dias que surgem com cheiro de novidade, como o caderno novinho do primeiro dia de aula, ou o livro recém saído da livraria, que tem um perfume todo especial de revelação.
Há dias que sinto esse cheiro no ar. Cheiro de recomeço, mas com uma mistura estranha de saudade sempre lá... Saudade do cheirinho de café quente no fim de tarde em casa, ou da chuva batendo na terra nos dias de sábado.
Saudade do cheiro de gasolina das longas viagens, ou da maresia em meu rosto.Sinto falta de todos esses cheiros, e o do bolo de chocolate saído do forno nas tardes de domingo quando era criança.
Ao mesmo tempo adoro o cheiro dessas novidades. De certos perfumes esperados, dos livros e da minha vida, que parece às vezes estar saindo do forno também agora, quando tudo dá uma reviravolta e eu começo tudo outra vez.
É como se eu pudesse sentir esse cheiro em tudo em certos dias, os do passado me espreitando em esquinas, e o do futuro sempre mais adiante. Os dois se misturam em um perfume peculiar que me embriaga.
É estranho como todos esses cheiros mexem tanto comigo. O do novo e do velho. O de antes e o de depois.
Só quero absorver tudo isso e cair de letargia por instantes, e então o segundo passa e eu sigo em frente.