terça-feira, 22 de novembro de 2011

O leito

 
Claro escuro claro escuro
CLARO

Meus olhos arderam com a claridade. A boca seca. Um batuque no crânio ritmado. Tinha a sensação de que meu cérebro iria explodir em milhões de pedaços.
Por que estava de ressaca? Não lembrava de ter bebido nada...
Tentei me mover e cada parte de meu corpo se revoltou como tivesse dormido em uma cama de pregos que enfiavam em cada músculo meu. Não era ressaca. Descobri no instante em que pude notar minhas mãos.
Estavam queimadas. E talvez mais diversas partes do meu corpo que não podia ver.
Vi o copo d’água em uma mesinha ao lado da cama e tentei pegá-lo, mas o simples movimento de erguer a mão era doloroso. Em algum momento de meu raciocínio confuso pode notar que estava em um leito. Tentei olhar ao redor, e a dor me fez gemer. Havia lençóis servindo de cortina, e gemidos por toda parte. E passos. E gritos. 
Ergui meu tronco com dificuldade para sentar e alcancei o copo. Bebi com urgência e a água desceu rasgando meu esôfago, como se fosse fogo liquido. Os gritos aumentavam, como se alguém houvesse aumentado o volume de um filme de guerra horrível, mas era ali, e bem real.
Levantei-me com esforço da cama, caindo por duas vezes antes de alcançar uma bengala ao lado da mesinha. Tinha que descobrir o que estava acontecendo.  Descobri o porquê daquela sensação horrível. Eu tinha que procurar alguém ali.
Puxei a cortina com uma mão e ao mesmo tempo em que gritei com a dor na mão enfaixada vi as pessoas ensangüentadas em macas em um corredor macabro. Parecia o resultado de um desastre, de uma guerra! Crianças, mulheres, homens. Mortos, morrendo, gritando, pedindo ajuda. Sem esperança alguma, sem ajuda alguma.
Havia alguém ali que eu precisava encontrar, era quase como um sussurro em meu ouvido me guiando por entre os leitos e macas, até alcançar o lugar exato e puxar a cortina.
Havia alguém na cama. A voz arrastada tossiu um se aproxime e caminhei devagar, arrastando meus passos.
Era um jovem. Estava vestido em uma farda ensangüentada. Um grande buraco em seu abdômen indicava sua morte em eminência.
Sua mão se ergueu com dificuldade e alcançou meu braço me levando até ele com toda a força que lhe restava. Cai sobre a cama, ele apertava meu braço com uma força incomum, como se assim pudesse se agarrar há alguma tábua que o salvasse.
Outro puxão e seu rosto estava a centímetro do meu. Pálido, os lábios sujos de pó e sangue, os olhos brilhavam como se enxergasse algo urgente. Olhos terrivelmente familiares.
Ele respirava com dificuldade. Eu quase não respirava.
Ergueu um pouco o rosto e senti a boca fria e a respiração pesada em meu ouvido.
“Prometa que vai dizer tudo para ele. Faça valer à pena.”
A voz era débil. Ergui o rosto e o encarei.
“Prometa” Repetiu com dificuldade. Um filete de sangue sai do canto de sua boca.
“Prometo” Falei
Ele sorriu e puxou algo do pescoço com força. Um cordão. Colocou na palma de minha mãe e a fechou. Senti o frio do metal e o encarei novamente. Ele ainda sorria.
“Vou cumprir minha promessa. Cumpra a sua.” Falou com esforço. Coloquei as mãos em seu ferimento tentando estancar o sangue, mas não adiantava. Ele puxou minha mão e fez um sinal negativo. Os lábios formularam a palavra que não saiu “deixe”. O peito subiu uma ultima fez. Estava morto.
Um grito escapou de mim e acordei no susto com o alarme tocando.
É sempre no sono esta guerra.
Lorem Krsna

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