quinta-feira, 10 de abril de 2014

Já perdi minha graça faz tempo.

As pessoas superestimam demais a "primeira vez" de todas as coisas.
São as últimas vezes que me tiram o sono.
Aquelas que você nunca sabe que foi a última vez, até que uma próxima não vem. Como ver uma silhueta sumindo na esquina, e ela não voltar mais. Ou aquela ultima ligação que você nem sabia que era a última.
O que você faria se soubesse que seria a última palavra a ser dita?
Não é a introdução que me incomoda, mas a conclusão, o ponto final abrupto, sem volta e sem remédio. Você nunca  sabe quando o fim vai ser fim mesmo. De repente a cortina fecha, o espetáculo acaba, e você nem vê o público indo embora. Você não disse sua frase de efeito, você não falou o que pensou que fosse óbvio. Você não sabia que a "saideira" era a saideira mesmo, ou que não teria um último cafezinho na esquina discutindo bobagens.
O xeque-mate vem sem você perceber. Quando vê, o jogo acabou, e ele para você nem havia começado.
Eu lembro bem da nossa última ligação, e a gente se despediu sem saber que era a última ligação, que não teria uma próxima vez. Eu vejo bem agora que isso acontece o tempo todo na vida.
Você pode ver bem quando algo começa, onde se inicia o primeiro parágrafo das coisas, mas o último, ah o último pode ser 200 páginas depois, 20, ou até do outro lado da folha. Ele vem com o fim de ciclo, de uma temporada, ou um acidente, um sujeito que bebeu demais,um assalto na esquina, ou simplesmente um coração que para de uma hora para outra.
Assim, você se vê obrigado a aprender a conjugar verbos no passado todo o tempo, a usar as expressões como "último", "final", "em conclusão". E nem sempre a gente consegue falar o "adeus", o "eu te amo" ou coisas assim, dessa forma. Eles ficam nas entrelinhas detestáveis do fim que você não sabia que era fim, da conclusão sem coerência que você pensou que apenas corpo do texto. Eles ficam no "vou te ligar próxima semana", que não vem, ou "fica bem." 
Chegou um tempo , que eu até achei graça nessas conclusões desconjuntadas. Mas sinceramente, eu já perdi minha graça faz tempo.

Lorem Krsna (Trecho de Da tua retina.)


P.S : Estou terminando de fazer os últimos capítulos. Já dá para se ter uma ideia pelos trechos que não é a estória mais feliz do mundo (apesar da pitada de humor negro), mas com certeza foi a que mais tive orgulho de escrever.

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