Não sabia ao certo há quantas já estava o dia. O céu estava fechado por uma densa camada de nuvens escuras e relâmpagos iluminavam frequentemente a inóspita paisagem.
A estrada era margeada por um floresta de pinheiros verdejantes, mas os faróis só me permitiam enxergar pouco a frente do caminho asfaltado que parecia não ter fim.
Preocupava-me algo, talvez o fato de dirigir sem habilitação ou mesmo idade apropriada. Havia um incômoda lacuna, mas sabia que tinha que chegar a qualquer custo a uma cidade antes que desabasse a tempestade iminente. A caminhonete preta de ano desconhecido não era tão rápida, mas ainda assim o vento entrava pelas janelas abertas aliviando o desconforto do tempo abafado.
Liguei o rádio do carro, sintonizado em uma rádio qualquer. Quando ergui os olhos do rádio, a luz dos faróis incidiu na figura e estremeci de susto: um lobo cinzento me fitava com grandes olhos azuis no meio do caminho.
Desviei do animal e o carro rodou chocando-se com uma árvore da margem.
Sai do carro surpreendentemente ilesa, com as gotas grossas me ensopando instantaneamente.
O lobo encarava-me no mesmo lugar, ele não havia recuado um único centímetro, mesmo diante do quase impacto que havia ocorrido.
Ele me fitou de uma maneira estranha e virou-se adentrando na floresta do outro lado, não sem antes olhar-me mais uma vez. Eu sabia que ele queria que o seguisse.
E aquilo estranhamente não me pareceu anormal.
O fiz.
Durante nossa caminhada, o lobo por diversas vezes virava-se para ter certeza de que o seguia. Chovia já torrencialmente fora da floresta, mas dentro as árvores diminuem o fluxo das gotas que caiam.
Quando o lobo cinzento adentrou em uma caverna, mais uma depressão no meio das rochas do que qualquer coisa, eu pude ouvir. Claramente.
Era um som de violino vindo de dentro da depressão.
Logo ao enxergar a entrada, vi a grande matilha.
Havia pelo menos dez lobos por toda a parte, sentados enquanto fitavam a chuva e a entrada, mas nem sequer me olharam quando passei em meio a eles.
Vi o fogo que crepitava no meio das pedras, pude distinguir uma silhueta em pé de frente a ele. Era o violinista. Não pude ver-lhe a face, mas notei o sinal que fez para que me sentasse perto do fogo. Minhas roupas estavam ensopadas e notei que tremia. Sentei-me grata e ele prosseguiu com a canção sem nada dizer.
O lobo cinzento que havia me guiado se postou ao meu lado e passei a mão em seu pêlo fofo e quente. Ele sentou-se perto, me esquentando enquanto os olhos azuis brilhavam de maneira enigmática diante do fogo.
Ouvíamos a música que parecia retumbar nas paredes. E que depois de um tempo cessou repentinamente. O violinista abaixou o instrumento e senti que me prescrutavam da escuridão. O corpo quente e felpudo ao meu lado ficou tenso e ergue-se.
Havia algo familiar ali, naquele homem, mas não pude distinguir e isso me desagradava.
“Acautele-se.” Ele falou de repente, com uma voz familiar e rouca. A frase era estranha, absurda para mim.
“Acautele-se.” Ele repetiu e então ouvi os rosnados atrás de mim. Virei-me em tempo de ver a matilha avançar pela caverna, com suas presas afiadas e caninos expostos na minha direção.
O lobo cinzento se postou de maneira protetora à minha frente, também rosnando, protegendo-me dos demais. O homem continuava parado, apenas assistindo.
“Cuidado ao andar com lobos.” Falou de maneira agourenta.
Os rosnados estavam perto e altos, ensurdecedores e eu sequer conseguia dar um passo para fugir.
“É melhor você ir agora.”
Assustei-me, não era mais o homem que falava, mas meu lobo cinzento. Ele estava em posição de ataque enquanto um outro lobo branco avançava rapidamente e pulava pronto para agarrar em minha jugular.
“Acorde!”
O lobo cinzento gritou.
No momento em que os animais se chocaram, acordei no chão.
Havia caído da cama durante o sono.
Levei a mão ao pescoço automaticamente e procurei pelos rosnados ao redor.
Não consegui mais dormir naquela noite.
Não era a primeira vez que sonhava com lobos, mas mesmo assim aquilo me abalou. Tudo havia se passado em menos de quinze minutos desde a hora que havia me deitado. Pareceram horas.
Achei super interessante sua narrativa... Vou interpretá-lo em meu blog!
ResponderExcluirParabéns
Me chame de José filho de Jacó
Ficarei grata em ouvir sua interpretação!
ResponderExcluir^^
Manda ver José!
isso é verdade?se for ou nao for goostei... responde e da qui alguns dias voutarei para responde-la! bjus!
ResponderExcluirBem-vinda Natália!Sim, isso foi verdade. Sou conhecida por ter os sonhos mais loucos...
ResponderExcluirSinistro é quando acabam acontecendo coisas parecidas na minha vida!
Ah, fique a vontade em voltar sempre!hehe
explendida história, adorei parabéns!gostei de sua narrativa, você me faz lembrar eu... ^^ o modo como conta, se fosse um pouco maior poderia fazer um livro... seria bem interessante! por que não-o termina, tire da sua cabeça e crie uma história. eu estou escrevendo uma chamada " O lobo azul", adoro lobos e escrevo histórias bem legais.
ResponderExcluirvoltarei sempre!Bjs
ah! como sou cabeça dura... esse comentario de cima é meu e esqueci meu nome.. é Franciele Alencar!
ResponderExcluirxau
Franciele, pelo o que noto temos muito em comum.
ResponderExcluirTambém escrevo histórias, tenho livros completos não publicados, e muitos deles os escrevo a partir de um fio de algum sonho.
E também sou fascinada por lobos, principalmente após este sonho!
Vou ver se sigo sua idéia!
Seja bem-vinda ao anjo sonhador, e volte sempre que quiser.
Fica a dica de "entre motos e asas", "a promessa de um anjo" e "sofia". Se gostou de o "chamado do lobo" talvez curta estas também mencionadas.
Abraços
Tome cuidado
ResponderExcluirok :/
ResponderExcluirNem sempre sonhos por mais assustadores que sejam, sao ruins... Ninguem podera te dar a resposta que certa, isto deve partir de voce. O lobo és um guia sabio, procure a resposta voce mesma... Pesquise e estude o Xamãnismo, voce entendera, gostaria muito de ter seu dom na escrita, poderia relatar para voce sonhos que marcaram muito minha vida, ate hoje... Perdoe-me meu nome és: Eduardo Prates Krzekotoski
ResponderExcluirBem legal seu sonho, achei interessante e é a segunda vez que li, amo lobos, estudo em livros e na internet como são e procuro entender eles melhor ainda, acho eles tão fascinantes e já comecei até mesmo escrever livros sobre eles
ResponderExcluirEu gostei da narração sem pensar qque eu amo lobo nhe mais eu gostei
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