quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Sala de espelhos

 Eu estava em uma sala de espelhos, que se assemelhava com as presentes em parques de diversão. Havia uma penumbra, e só o que impedia a escuridão  em sua totalidade era a chama de uma vela que bruxuleava em minha mão. Estava confusamente perdida. Não sabia como ou porquê de estar ali. Havia somente uma certeza: a espera de algo ou alguém.
Levantei meu olhar, e a luz refletia em todos os espelhos a minha imagem, pálida como nunca antes lembro de ter estado. Meus olhos opacos não revelavam em nada a minha confusão de sentimentos. Não havia emoção visível.
Aquela não era realmente eu, não poderia ser. Parecia terrivelmente comigo, apesar do estranho vestido escuro e dos pés descalços. Mas havia algo de errado com aquela que me fitava com olhos apagados e a boca em uma linha reta. Era como uma prisão da qual eu tentava escapar. Um corpo estranho em uma mente agitada. Emoção profunda presa em pura apatia. E espera, somente espera... enquanto o tempo passava indefinível através de mim.
A vela queimava minha mão e soltei-a, e quando apagou-se no chão me vi em total escuridão. Tateei no negror, sentindo minhas mãos deslizando na superfície fria dos espelhos.
- O que faz aqui?
A voz retumbou nas paredes, profunda, estranhamente conhecida.
- Esperando - respondi em um sussurro. A voz também não se assemelhava em nada com a minha.
- Quem?
- Eu não sei... - espalmei a mão no espelho e recostei minha cabeça na superfície gelada - eu não sei...
- Se não sabe, por que não vai embora?
- Não posso...
As perguntas começaram a me irritar. Senti que não estava mais sozinha na sala, não era somente a voz, mas uma presença as minhas costas. Algo perigoso, mas irresistível.
- Eu prometi - falei tomando coragem para me virar, mas era tudo escuridão.
- Promessas... - a voz sussurrou agora vinda do outro lado, do espelho.
Acordei e olhei o teto, onde o sol do amanhecer já lhe incutia seu brilho.
Puxei a colcha que caíra no chão e sentei encarando a meia penumbra.
E fiquei assim.
Esperando sem saber pelo o quê.
Encarando-me apenas no espelho do guarda- roupa.
Lorem Krsna

Um comentário:

  1. O que pensavas neste instante?
    Bélissimo texto, como você, há momentos que não me reconheço, sempre a espera de algo que não sei o que é, ou "quem" é...

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