sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A promessa de um anjo

Podia sentir o vento em meu rosto, soprando em meus cabelos, esvoaçando ao redor através da janela aberta do carro. O sol brilhava ainda timidamente por entre as árvores que margeavam um dos lados da estrada, enquanto a brisa marítima da oposta me inebriava com o cheiro bom de casa, de infância. E misturava-se com o aroma de eucalipto da floresta, me inundando nas cores ainda rosadas do amanhecer.
O som do carro soltava uma melodia instrumental, melancólica.
E havia ele. Ao meu lado. Uma mão na direção e a outra docemente entrelaçada a minha caída no banco. Olhava a estrada a frente enquanto eu admirava seu belo perfil, que eu sabia estar perdido em pensamentos. A pele era pálida, em contraste com a massa de cachos escura que eram seus cabelos curtos. Os olhos rivalizavam com uma meia-noite escura, sem lua. A boca estava repuxada em um canto, em um leve sorriso que fazia minhas faces corarem. A camisa preta de botões estava dobrada até seus cotovelos revelando mais da pele pálida e de uma cicatriz branca que se estendia, escondendo-se através do tecido. Uma corrente de prata em seu pescoço revelava um pingente com um par de asas.
De repente ele me olha de relance, notando minha observação e seu sorriso se alarga deixando meu rosto quente e meu coração disparado. Seus dentes eram brancos e seu riso era travesso, sinos ao nosso redor. Os olhos brilhavam onde antes se via apenas pensamentos que eu não podia alcançar.
- Vermelha é a sua cor - Ele fala diante de minha face interrogativa e enrubescida. A voz era algo inconcebível de explicar, havia um leve sotaque que não podia definir a origem.
- Não devia rir assim de mim - replico desviando meu olhar, mas sem conseguir impedir meu leve sorriso.
Ele riu novamente e levantou minha mão na sua, depositando nela um beijo e me puxando para mais perto dele. Seus olhos me aprisionavam. Era fascinante e tão estranho para mim.
 - Perdoe-me- Ele não parecia arrependido - Você cora fácil. É bonito.
Sinto o rosto ainda mais quente, mas fico satisfeita. Sua mão ainda na minha retira uma mecha que o vento solta de meu cabelo em meu rosto e a puxa para trás de minha orelha. Recosto minha cabeça em seu ombro a um gesto seu, e o sol passa brilhando por nós.
- Aonde vamos? - Pergunto após um tempo.
- Longe - Sua voz estava repentinamente triste - Leste. É preciso.
Não havia mais perguntas. sua presença parecia o bastante, uma droga que entorpecia meus sentidos racionais, tornando tudo naquele momento irrelevante.
O cheiro que emanava de sua pele era doce, inebriante. Sumiam todos os meus anseios. Alguma parte de mim sabia que estava encrencada, mas não lembrava o porquê.
Havia algo em sua presença que me lembrava um passado distante... sombrio. Perigoso.
- Tudo ficará bem - Ele falou como se fosse mais para si mesmo do que para mim.
- Eu sei... Eu só...
- Eu prometo. - Ele me interrompeu, me encarando de relance - Vou estar sempre do seu lado. Mesmo que inicialmente eu precise...
- Não me deixe. - Eu o interrompi apertando forte sua mão, o pânico subindo algumas oitavas de minha voz.
- Nunca - Ele respondeu com energia. Seus olhos me encararam com suavidade, mas sérios - Está ouvindo bem? Nunca!
- Promete?
- Estarei sempre perto. É uma promessa.
E então antes que eu pudesse lhe responder as palavras presas em minha garganta, o outro carro surgiu do nada a nossa frente, na curva. Foi tudo rápido, confuso. O carro guinou e então o vidro explodiu a nossa frente. Luz...
E escuro.
Mais nada.
Acordei em um salto. Os braços protegendo meu rosto. e uma presença tão real e forte na porta que saltei da cama e corri até lá. Minhas mãos não tocaram nada além da parede fria na escuridão.
Nunca havia sentido algo tão perturbador diante de um sonho.
Nunca havia experimentado aquela sensação de perda de um modo tão extremo e doloroso. Meu peito parecia que iria arrebentar.
Queria que fosse real...
 Mas também não queria que fosse real...
"Estarei sempre perto... Eu prometo."
Era tudo que ecoava em mim
  

Lorem Krsna

Um comentário:

Dúvidas? Indagações? Palpites? Ideias? Epifanias?
Só para comentar mesmo?
Tudo bem!
A vontade!
Aberta a opiniões.
A agradeço a sua visita ao anjo sonhador.
Espero que volte sempre que quiser, serás bem-vindo.

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