terça-feira, 22 de março de 2011

O labirinto do Fauno



                                     



Há algum tempo, recomendaram-me o filme O labirinto do Fauno, pois acreditaram que me identificaria com o roteiro. A princípio acreditei que fosse um conto de fadas, e vi que estava totalmente enganada.
A história se passa após o término da guerra civil na Espanha, por volta de 1944. Ofélia (Ivana Baquero) é uma menina que vive entre a realidade e os livros de contos-de-fada. Sua mãe Mercedes (Maribel Verdú) após a morte do marido, um alfaiate, casa-se novamente, com Vidal (Sergi López) um oficial inescrupuloso e cruel. Mercedes espera um filho de Vidal, e quando aproxima-se a data do nascimento da criança mãe e filha partem para a colina onde os oficiais tentam sufocar os últimos grupos armados que combatem contra o novo regime fascista. Vidal acredita que um filho deve nascer perto do pai, e por isso trás a mulher a todo custo, mesmo com o perigo eminente da situação.
Logo de inicio, percebe-se que ele trata a enteada como lixo.
Entre o perigo da perda da mãe, o medo do padrasto, a solidão e o isolamento Ofélia encontra um labirinto místico, e ao adentrar nele vê um fauno que a reconhece como Muana, uma princesa que se perdera há muito do subterrâneo mundo onde reinava, e que após a morte teria de retornar com outro corpo, para onde era esperada por seu pai. O fauno (assustador por sinal, em minha opinião) então lhe diz que para voltar a seu verdadeiro mundo, Ofélia teria que passar por três provas para mostrar que sua alma não havia se tornado impura.
E as aventuras começam.
Enquanto Ofélia cumpre suas provas, os combatentes do regime são ajudados por Carmem (Ariadna Gil), irmã de um dos combatentes e criada de Vidal, que se torna amiga de Ofélia. Uma mulher forte e decidida, que ama a menina e a protege.
O perigo ronda Carmem e quem mais ajuda os rebeldes.
E ronda Mercedes, que tem uma gravidez difícil.
E em meio a torturas de combatentes lideradas por Vidal, Mercedes morre ao dar a luz e Ofélia se vê sozinha contra a fúria do padrasto que descobre a traição de Carmem e a fuga que as duas fariam juntas.
Carmem consegue fugir da tortura, e promete voltar com reforços para ajudá-la.
E é então que o fauno lhe mostra a ultima prova: levar seu irmão para o labirinto.
Ofélia o faz, e é perseguida por Vidal, ao mesmo tempo em que os rebeldes invadem o acampamento e matam oficiais.
No labirinto, Ofélia se vê diante de uma escolha: para retornar a seu reino, terá que derramar o sangue inocente do irmão. Ela então nega e renuncia a seu trono para não machucá-lo, e é então que chegamos há uma parte surpreendente do filme, quando Vidal chega ao labirinto e vê a menina conversando... Com o nada. Ele toma a criança de seus braços e atira em Ofélia, que cai agonizante.
Quando saí do túnel, Vidal se vê cercado pelos combatentes ao lado de Carmem. Ele entrega a criança e tem seu final merecido (mais que merecido! Hum! ), morre com um tiro na cabeça, não sem antes ouvir Carmem falar que o filho não saberia sequer o seu nome.
Os combatentes procuram Ofélia e a encontram morrendo...
No seu inconsciente, Ofélia se vê dentro de um grande salão real, vestida como uma princesa e em frente a o rei, a rainha representada por Mercedes e seu irmão.
Seu pai dá bem-vinda a filha, e diz que ela cumpriu sua última prova: derramar seu próprio sangue para proteger um inocente, e por isso é aceita de volta a seu mundo e reino, tomando o lugar que lhe foi devido.
O fauno e o povo aplaudem e Ofélia sorri...
... Enquanto morre no labirinto, nos braços de Carmem que canta para ela.

Ofélia e a fantasia

"Dizem que há muito, muito tempo no mundo subterrâneo, onde não existem nem a mentira, nem a dor, vivia uma princesa que sonhava com o mundo dos humanos. Ela sonhava com o céu azul, a brisa suave e o sol brilhante. Um dia, enganando toda a vigilância a princesa escapou. Uma vez no exterior a luz do sol a cegou e apagou de sua memória qualquer indicio do passado. A princesa esqueceu quem era e de onde vinha e seu corpo sofreu com o frio, a doença e a dor. E com o passar dos anos ela morreu. Entretanto o seu pai, o rei, sabia que a alma da princesa retornaria. Talvez em outro corpo... em outro tempo... em outro lugar. E ele a esperaria até seu último suspiro, até que o mundo parasse de girar..."

A morte de Ofélia foi uma das partes mais emocionantes e surpreendentes da história, e deixou no ar dúvidas propositais que fazem o telespectador pensar: Afinal, teria Ofélia de fato vivido tudo aquilo no labirinto, passado pelas provas? Ou ao contrário, teria tido ela um episódio psicótico (o que explicaria o fato de Vidal não ter visto o Fauno no labirinto conversando com ela) ? E caso tenha sido este o caso, como se explicaria o fato de ela ter conseguido sair do quarto em que estava trancada, usando apenas giz? E a mandrágora? A previsão da morte da mãe? Teriam sido estes fatos apenas criados por sua mente devido as circunstâncias?
São coisas a se pensar.
Desde o inicio percebe-se que Ofélia é uma sonhadora, personalidade criada talvez para fugir da situação complicada, e do medo frequente a que estava submetida. Como vivia em um mundo inseguro, ela então criou o seu próprio em que era uma escolhida, onde alguém a esperava. Onde teria, em como os contos em que lia um final feliz ao lado dos que lhe eram caros.
Mas qualquer que seja a verdade, ou o que ou não ocorrera, o fato é que Ofélia é uma personagem que reflete o sonho que emerge em meio a ruína. A fantasia e a magia em meio ao caos da realidade, e isto se demonstra em várias cenas em que parte-se da narrativa da menina em meio a cenas duras entre combatentes e torturas. Ela era, de certo modo, a rosa no meio do pântano.

"E dizem que a princesa desceu ao reino de seu pai, e que lá reinou com justiça e bondade por muitos séculos. Ela foi amada por seus súditos, e deixou para trás pequenos sinais de sua passagem pelo mundo, visíveis só a aqueles que sabem onde olhar.”

Vidal e a realidade

Vidal na história representa o mal, a falta de escrúpulo e a alma humana corrompida pelo poder. enquanto Ofélia seria a "pureza", ele seria toda a sujeira, e de certo modo, a realidade que faria contra-peso a fantasia que ele criava (ou/e vivia).

O Fauno e o bem e o mal

Por diversos momentos no filme, cheguei a duvidar se o Fauno representaria o bem ou o mal. Há uma passagem em que Carmem diz que não se pode confiar em Faunos, e quando ele pede que Ofélia machuque o irmão então chegamos a pensar que ele é o mal na menina.
Mas no fim, tudo não passou de um teste para saber até que ponto Ofélia chegaria.
A meu ver, o Fauno na verdade agiu como a consciência da própria Ofélia. Ele lhe deu as possibilidades, e ela faria as escolhas.

Carmem e o Doutor

São personagens secundários, mas que ao meu ver de Vital importância na história.
O que você faria para ajudar ao próximo? Até que ponto você chegaria por uma causa?
Há uma passagem que explica em suma a personalidade do médico ( interpretado por Alex Angulo), em que ele prática a eutanásia em um combatente torturado para livrá-lo da dor e de novas torturas que lhe seriam impostas. Vidal então lhe pergunta por que ele não o obedeceu, este lhe responde que "Obececer por obedecer, assim, sem pensar, só o faz gente como o senhor capitão". E o Vidal o mata com um tiro pelas costas.
Carmem, em toda a história ajuda os rebeldes. Ela é guerreira, e vai até as últimas consequências para proteger quem lhe importa, chegando até a tentar matar-se para impedir entregar os amigos sob tortura.
Ambos representam a realidade, no que há de integro nela. Mesmo que como Vidal eles tenham uma causa, eles não se corrompem, e como o próprio médico citou "não obedecem por obedecer".

O Filme

O labirinto do fauno foi um dos melhores filmes que já assisti. Escrito e dirigido por Guillermo Del Toro, é uma mistura de fantasia e realidade tão intricadamente interligadas que se confundem.
Pode-se pensar em diversas teorias (realidade V.S fantasia), que vai pela interpretação de cada um. Mas não há dúvida de que o filme é uma excelente obra, no sentido visual e no roteiro.
As cenas de tortura, da morte de Ofélia e do médico são emocionantes... revoltantes.
E a trilha musical é também cativante, proporcionada por Javier Navarrete.
Em suma, é um filme que recomendo, para todos e qualquer um que queiram assistir a algo tocante, e surpreendente.

Lorem Krsna

3 comentários:

Dúvidas? Indagações? Palpites? Ideias? Epifanias?
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Tudo bem!
A vontade!
Aberta a opiniões.
A agradeço a sua visita ao anjo sonhador.
Espero que volte sempre que quiser, serás bem-vindo.

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