Era um mundo em pedaços, em uma noite profunda iluminada apenas pela tocha. O fogo bruxuelava ao sabor da brisa,e ao longe se ouvia o som agourento de algum animal desconhecido.
O barco rastejava a deriva na água escura ao sabor da correnteza mansa. Minhas mãos descançavam na água fria como pedra e a retirei atordoada. Os olhos pesados de sono logo se abriram mas ainda não via praticamente nada além do barco, a tocha e a escuridão.
Sentei e olhei ao redor. Estava sozinha.
Quando os olhos começaram a se acostumar com o escuro, pode notar os olhos brilhantes que se destacavam na massa negra da floresta ao redor da correnteza gelada em que o barco deslizava. Olhos agressivos...
Me encolhi na embarcação tentando me proteger do frio intenso e notei minhas mãos feridas, manchadas de um sangue já seco. Eram arranhões como se tivesse me arrastado durante horas em meio há espinhos ou pedras de cascalho.
E de repente, em meio a escuridão uma forte luz me cegou vinda do céu. Uma explosão balançou o barco e cai dentro, me segurando para que ele não virasse. Minha cabeça bateu forte no chão de madeira e me senti zonza por um momento, em que pareci apagar...
E então novamente a luz forte em meu rosto, cortando a escuridão. Pisquei para o céu e meu coração deu um salto descompassado.
Era como se o céu negro estivesse se partindo, quebrado por feixes de luz atordoantes. Minha respiração ofegante parou ao notar que os pedaços caiam velozmente por toda parte, como meteoros devastando tudo ao redor, deixando espaços brancos no teto do mundo.
E então foi quando notei um vindo, ameaçador na direção do barco, pulei e a embarcação guinou para o lado me jogando dentro da água fria como gelo.
Sentia como se milhares de agulhas perfurassem minha pele. Tentei voltar a superfície, mas na escuridão profunda das águas não sabia mais o que era profundeza e ar. Nadava buscando a saída e só chegava mais fundo... e mais fundo...
Meus pulmões buscavam em vão o ar, e uma letargia tomou meu corpo que pesava... E eu sentia pedaços pesados caindo na água, passando perto de onde meu corpo não mais se debatia, entregue apenas a sorte.
Meus olhos fechavam aos poucos... E eu me entreguei sem resistência ao sabor da corretenza e do nada...
E então eu acordei, e ao redor tudo era branco como uma folha intocável. Eu estava ensopada, ferida e atordoada. Deitada em uma cama branca semelhante a um leito de hospital, eu não falava e meu corpo doía. Meus pulmões ardiam e lembrei de quando era criança e quase me afogara... Era a mesma sensação. A boca seca, a dor-de-cabeça insuportável.
E havia uma poltrona ao lado da cama, e ao notá-la, vi também o homem que nela estava sentado a me analisar com olhos claros como um céu ao meio-dia. Um olhar paciente e paternal que constrastava com o meu confuso.
- O mundo caiu? - Foi o que consegui formular com a voz rouca, que rasgava a minha garganta como se estivesse bebendo milhões de agulhas.
- Como se sente agora? - Ele perguntou de volta. Detesto quem responde uma pergunta com outra pergunta, mas desta vez não queria discutir.
- Cansada... mas quem é o senhor?
- Uma pergunta interessante... mas eu faço a mesma: Quem é você?
- Ora, eu sou eu... ou era. - Me senti confusa e suspirei - Minha cabeça parece um pouco vazia... como se...
- Não houvesse o que lembrar. Como se tivesse nascido agora.
- Isso - franzi a testa, ele sabia exatamente o que ia falar? - O que aconteceu? O mundo caia...
- Lembra-se da frase de seu livro favorito? - Ele sorriu cúmplice
Pensei um pouco
- "Para nascermos temos que destruir um mundo".
- Como um pássaro que tem que destruir seu mundo para nascer... - Ele falou
Eu sorri entendendo.
- Nascer de novo é sempre doloroso assim?
- Nascer em sí é doloroso. Mas preciso.
- Eu pensei que estivesse morrendo.
O homem riu e pegou em minha mão. A sua era fina como um pergaminho. A barba e os cabelhos grisalhos e o sorriso complacente.
-Morrer é fácil. Viver é que é díficil.
Acordei com o sol da tarde a tomar meus olhos. Estava dormindo na sala. E estranho... sorrindo.
Lorem Krsna
É lorué, demorou,mas você está conseguindo fazer com que as pessoas ouçam o que você lhes fala. Todos só tem a ganhar ao aprender com a personalidade que é você. Continue gritando que vamos continuar ouvindo. Fale também por aqueles que não tem você e precisam ser ouvidos.
ResponderExcluirBeijo daquele que um dia foi seu mestre.