segunda-feira, 6 de junho de 2011

Quase afogamento

A primeira vez que me afoguei eu tinha (se não me engano!) por volta de oito anos. Eu lembro da sensação estranha. Primeiro dos meus pés não tocarem o chão, e então de não conseguir alcançar a superfície. A água parecia uma colcha sobre mim. Eu abri a boca para falar, pedir ajuda, e não saia nada, só bolhas. Comecei a me debater, e então não sabia mais ao certo onde era a superfície e o fundo. Os pulmões começaram a arder, a vista a ficar turva e então veio a estranha letárgia. Eu parei de me debater, e meu corpo parecia ficar pesado. Meus olhos foram fechando e minha mente começou a nublar, provavelmente pela falta oxigenação no cérebro, e então...
Alguém me puxou para fora da água e o ar entrou nos meus pulmões, queimando tudo.
Da segunda vez, eu já era mais velha, e foi mais... complicado.
A maré estava muito cheia, agitada, e quando eu notei a correnteza havia me levado para muito longe da margem. Tentei vizualizar alguém, alguma das pessoas que estava comigo na praia, mas as ondas estavam muito fortes, e sempre me jogavam mais e mais para o fundo tanto mais eu tentava ficar na superfície. Eu girava na água, tentando nadar para a margem, mas em dado momento não sabia mais para qual direção deveria ir. E quanto mais as ondas vinham, tinha mais dificuldade de emergir. Logo notei que quando tentava ir a superfície, na verdade nadava para o fundo.
E então, diferentemente da primeira vez, milhares de pensamentos me vieram a cabeça... Sabe aquela história da sua vida passar na sua frente em um piscar de olhos? É verdade. E achei minha vida muito... chata. eu tinha muito o que fazer ainda!
E então, nesse instante uma onda me jogou para algo sólido, bati minhas costas com força e gritei de dor dentro de água turva.
Um barco, ancorado.
Me agarrei a madeira escorregadia e me impulsionei para dentro. Cai no banco vazio, agradecida por minha sorte e me recuperei. Meu corpo doia, e parecia de repente exausta. Demorou muito para me sentar e olhar ao redor. Não estava tão longe da margem. As ondas estavam se acalmando e notei que minha irmã me chamava ao longe. Acenei, aliviada por ela não ter percebido nada. Claro que nunca admiti isso a ninguém (Eis agora minha confissão escrita!), quando fiquei melhor, pulei na água, desta vez mais calma, e nadei de volta a praia (eu nado muito mal minha gente, mais ainda nado alguma coisa viu?). Findada a minha experiência de quase-afogamento.
Agora, por que eu narrei estes dois fatos?

Eu precisava lembrar, que realmente apesar de por tantas vezes reclamar tanto da vida eu tenho (e muita!) sorte.


Lorem Krsna

2 comentários:

  1. Também, já quase me afoguei.
    E justamente pouco depois do nascimento de meu filho.
    Achei que não escaparia. Não era fundo, mas as ondas me puxavam.
    Pensei, que não era justo que queria acompanhar mais um poucos meus filhos, e chorei imensamente, mesmo sem lágrimas.
    E, de repente, depois da resignação, uma ponta de areia se pôs debaixo e meus pés.
    Agradeço imensamente e curso a tudo que posso. Faço meu dia valer, não deixo de olhar meus filhos e todos ao meu redor.
    .
    Não sei, afinal, quando me afogarei de vez!

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  2. Fico me perguntando quantas vezes eu já não gozei da cara da morte, pode crêr, ela é feia, independente do lugar para onde ela queira levá-lo. Depois de alguns anos a vida nos ensina que, em sua didática, ela costuma nos pregar peças,por vezes, difíceis de esquecermos. O fato é que, quando chegamos em um momento da nossa vida em que descobrimos que, não importa o quando agente possa rir da morte, um dia vai chegar a vez dela ganhar o jogo; e quando aprendemos isso é que conseguimos perceber a importância dos 86400 segundos de vida que nos é creditado todos os dias. A forma como os aproveitamos é nossa escolha. Um dia a morte vai rir, mas eu vou olhar pra ela e falar: "riu por ultimo, mas eu rí mais e aproveitei também".

    To fazendo do teu blog uma área de postagem.

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