quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O diabo é deixar de viver!

 "A pomba, que por medo do gavião, se
recusasse a sair do ninho, já se teria perdido 
no próprio ato de fugir do gavião. Porque o 
medo lhe teria roubado aquilo que de mais precioso  que
existe num pássaro: o vôo. Quem, por medo do
terrível, prefere o caminho prudente de fugir do risco, 
já nesse ato estará morto. Porque o medo lhe
terá roubado aquilo que de mais precioso existe na
vida humana: a capacidade de se arriscar para viver 
o que se ama ." 
Rubens Alves


Andei pensando no medo. Sempre tive medo, alguns se foram, outros mudaram e muitos são os mesmos de minha infância.
Talvez mudaram de forma, de máscara, mas por trás há aquela mesma face de angustia que carreguei. E que ainda hoje carrego.  O medo do abandono e da solidão.
Quando criança tinha medo do escuro, e por isso acendia a luz antes de dormir. Hoje tenho medo do escuro dentro de mim, pois não sei aonde encontraria o receptor que me protegeria do escuro que viesse a se consolidar aqui dentro.
Mas talvez o meu maior medo, o supremo seja o medo de perder. Perder aquilo, aqueles que me são importantes.
E isso, todo o meu medo se resume na perda.
E por que não falar da perda da vida? A morte ainda me faz tremer, mesmo que eu saiba que ela é inevitável. Mas como disse Mário Quintana "Um dia...pronto!...me acabo./ Pois seja o que tem de ser./ Morrer: que me importa? O diabo é deixar de viver!”  Então é isso, não é  bem o medo da morte, é o medo de deixar de viver. Mesmo que meu coração funcione, meu corpo resista, tenho medo da morte em vida. Rubens Alves definiu bem este pensamento em sua crônica sobre a morte e o morrer em que diz que "A vida humana não se define biologicamente. Permanecemos humanos enquanto existe em nós a esperança da beleza e da alegria. Morta a possibilidade de sentir alegria ou gozar a beleza, o corpo se transforma numa casca de cigarra vazia."
Tenho medo de me tornar esta casca vazia, da dor.
É desta morte que tento fugir.
Já tive vergonha de meus medos, mas um dia aprendi que ter medo não é oposto de ter coragem. Todo mundo tem medo. O que faz de alguém corajoso é a capacidade de viver com seu medo, sem deixar que este medo viva por você, e te impeça de seguir em frente.
Assumo então minha covardia, pois tantas vezes deixei que meu medo me dominasse.
Hoje vejo que deixei de viver muito o que deveria ter vivido por medo de arriscar, de sofrer, e principalmente de perder, pois no alto de minha tola ilusão acreditava que se não me importasse com as pessoas, não as teria, e assim não teria a quem perder. Mas  cheguei a conclusão que aquele que não se importou, não lutou e andou ao lado de outros não terá seu coração partido, mas também não viveu. Então, hoje prefiro me importar com as pessoas e me arriscar a perdê-las, do quê viver a vida fugindo e ter minhas asas presas, sem nunca ter avistado o céu. Se meu medo de cair tivesse me dominado anos atrás, hoje não estaria caminhando.
Eu tenho medo. Nunca poderei dizer que não tenho. Mas não quero viver presa a meu medo, ou deixar que ele me impeça de lutar por aquilo que desejo. Me impeça de viver a vida que eu tenho de viver.


Lorem Krsna

3 comentários:

  1. Estes medos perseguem a todos nós(humanos).Tudo o que vc escreveu é o que eu sinto e que não consigo expressar. Certamente parar de viver com medo de morrer não é uma boa saída, antes é um suicídio mental. Parabéns por estas belas palavras.

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    Respostas
    1. Primeiramente, agradeço a visita.
      Sim, certamente todos possuimos estes medos básicos, em especial o da perda, seja de um ente, uma ideia, um sentimento ou um bem material. Somos humanos, logo temos medo, e com certeza foi esse medo que trouxe a prudência e nos transformou no que somos: os seres "dominantes" na escala evolutiva.
      Obrigada pelo comentário, é sempre bom saber que nossas palavras estão alcançando alguém =)

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