segunda-feira, 25 de abril de 2011

Samuel

Senti a grama úmida em minhas costas, e quando abri os olhos avistei o azul imenso sobre mim.
Virei o rosto, e me vi deitada em meio a flores em uma clareira. O vento soprava levemente trazendo no ar um cheiro de eucaliptos da floresta densa ao redor, e soltava os dentes-de-leão no ar.
Passei as mãos nas flores, sentindo o calor filtrado da luz do sol pinicar minha pele. Devia passar do meio-dia, talvez.
Sentia uma paz imensa, e era como se eu conhecesse aquele lugar por toda uma vida.
E então veio o som... Alguém cantava uma música que eu gostava muito com uma voz infantil. Sentei-me procurando ao redor onde antes achava que estava só, e avistei um garotinho sentado perto, brincando em meio às flores. Ao notar que o olhava ele parou de cantar.
Levantei-me e aproximei-me curiosa, sentando novamente ao seu lado. Ele me olhou com grandes olhos pretos e desconfiados, franzindo a testa.
- Olá - me apresentei com meu melhor sorriso.
- Oi - ele respondeu ainda um tanto carrancudo, mas curioso.
- O que faz aqui? - perguntei o imitando ao pegar uma folha de grama entre os dedos. Os gestos dele eram estranhamente familiares aos meus.
- Sentado - ele respondeu com seriedade - Como você.
Caramba. Que obvio. Ele parecia mesmo comigo...
- Hum...
Calamos-nos por um instante enquanto o vento soprava mais forte. Comecei a cantar a música que outrora ele entoara e então ele me analisou por entre os cabelos que lhe caiam na testa.
- Por que estava dormindo ali? - Perguntou apontado o local onde antes eu estivera.
- Não estava dormindo. Só deitada.
- Se não ia dormir, por que deitou?
- Ah, sei lá. Só estava pensando.
- E precisa deitar para pensar?
Dei de ombros.
- É bom às vezes... Você canta bem, quem te ensinou aquela canção?
- Minha mãe.
- E cadê ela?
- Ela volta logo. Foi ela que falou para não perturbar você ali.
- Hum...
- E a sua?
- Ah, ela está longe... Mas logo a gente vai se ver.
- Ela te ensinou a cantar?
- Não como você.
Ele riu vermelho e então me entregou a flor que trazia nas mãos.
Agradeci e a coloquei entre um cacho. Ele riu.
- Seu cabelo é engraçado. É bagunçado. Parece com o da minha mãe.
- Pois é - Eu ri também
- Eu moro perto da serra - Ele falou, apontando com a mão para além da floresta - É uma casa muito bonita, com um jardim na frente.
Antes que eu pudesse responder uma voz nos interrompeu.
- Samuel?
Olhamos ambos para a direção da voz, onde surgia uma mulher usando um vestindo branco esvoaçante, e cabelos de cachos ao vento. Ela era... Familiar.
- É minha mãe. - O menino anunciou acenando.
Quando a mulher se aproximou mais, a reconheci com susto. Estava mais velha, mais aquelas olhos...
Eram meus!
Acordei com o susto, dormira na mesa da cozinha por cima de um livro. Meu celular tocava insistentemente.
Atendi.
Era minha mãe.




Lorem Krsna

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